sexta-feira, 9 de julho de 2010

Capitulo 1 - O Cartunista

Tudo começou quando eu, Mattew Mc. Gregory passei a morar sozinho numa velha casa no centro da cidade, acabei de completar meus 18 anos e sinto me pronto para iniciar a vida adulta, minha verdadeira intenção em morar no centro era ficar mais perto de minha amada e melhor amiga Renata Mayson.

Ela sempre gostou de ficar próxima a mim, pois tento fazer com que ela sinta-se bem com meus desenhos engraçados, e ela costumava dizer que quando eu desenhava, tudo ficava mais bonito e puro.
Passei alguns dias sem vê-la mas não achei estranho pois era muito comum que se afastasse quando estava em uma de suas crises depressivas, mesmo assim achei melhor ir na casa dela. Chegando avistei Philip, padrasto de Renata, um homem de carácter questionável e de imagem nada agradável, o tipo de cara que me faz pensar que sou a melhor pessoa do mundo. O cara estava parado em frente a casa fumando um daqueles cigarros baratos, me aproximei e disse:

- A Renata está?
- Você deve ser Matt, não é? A menina falava muito de você.
- Como assim? - Disse preocupado. - O que houve com ela?
- Garoto, vou te falar uma coisa, está perdendo viagem...
- Porquê está dizendo isso? Por acaso não vai me deixar vê-la?
- Não seja abusado moleque, digo isso porque não vai poder vê-la nem aqui, nem em lugar nenhum!
- "estou quase ficando irritado com esse cara! Ele só pode estar de brincadeira!"
- Diga logo o que houve então! - Disse com tom de voz um pouco elevado.
- A sua amiginha confundiu um frasco de anti-depressivos com pacote de balas e acabou morrendo, hump, era mesmo uma garota idiota!
- O que!? - Após dizer isso, dei as costas para ele sem dizer uma palavra.
- Não se esqueça de ir ao velório amanhã cedo.


Senti uma fúria grande que seria capaz de arrancar a cabeça daquele desgraçado, ela morreu e o maldito ainda fica fazendo piada. Mas eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser o fato de que não iria mais ver Renata, e que isso seria definitivo, não era mais um de seus desaparecimentos repentinos, estávamos falando de morte.
Acordei cedo com a esperança de que tudo aquilo tivesse sido apenas um pesadelo, mas era real, e eu tinha que estar no cemitério essa manhã. Chegando lá, não consegui ficar perto do caixão, fiquei apenas de longe observando, e tudo que eu via eram pessoas velando o corpo de Renata, foi a pior imagem que já havia visto, uma sensação estranha correu por meu corpo, ver minha amada ali, sem vida, sem cor e sem sentimentos. Não aguentei ficar até o final, preferia a morte ao vê-la sendo enterrada.

Não precisei de mais nada além de alguns papeis em branco e um lápis tranquei-me em casa, e lá passei um mês sem ver nada nem falar com ninguém, apenas desenhando o rosto dela e chamando por seu nome, mas sem ter alguma resposta. Numa noite dessas, resolvi que não podia ficar parado esperando que algo acontecesse, e que ficar em casa não iria traze-la de volta, decidi sair para dar uma volta, era um costume muito comum antes da morte de Renata, eu passeava com ela e imaginava que éramos namorados, embora que de fato éramos apenas bons amigos. Não tínhamos nenhum centavo, além do pouco que gastávamos com bebidas baratas, para falar a verdade, esses eram bons tempos, a única coisa que faltava naquele "cenário" era um cachorro, eu nunca tive um cãozinho, e observava enquanto as pessoas passeavam com seus pequenos animais, na maioria das vezes eram casais
o que me fazia pensar em como seria interessante se em minha realidade houvesse um menino como eu vendo o desenho da sombra formado por mim, Renata e um pequeno cachorro desaparecendo sobre a luz do sol.

Ao por os pés para fora de casa, senti como se tudo estivesse diferente, dessa vez eu andava com menos dinheiro que o normal, sem nenhum sonho, sem cachorro, sem Sol e sem o mais importante, sem a minha amada...
Então resolvi ir a um lugar que nos dois costumávamos frequentar, o parque central da cidade, onde permanecíamos por horas e horas jogando conversa fora falando um para o outro sobre nossos sonhos para o futuro ou nossos objetivos de vida, enfim, esse tipo de coisa, e ao chegar, mesmo tudo estando lindo como sempre, sem ela não era a mesma coisa, tudo parecia estar em preto e branco pra mim naquele momento. Foi então que derrepente apareceu um homem misterioso, de trajes surrados, barba mal feita, parecia estar embriagado, veio ate mim e do nada começou a puxar assunto comigo como se já me conhecesse:

- Ei garoto, você parece não estar tendo um bom dia hein!? Assim como eu... Mas ao contrário de mim, você ainda é jovem, e tem a vida inteira pela frente, seja o que for que estiver fazendo você se sentir assim esqueça! As únicas coisas que não podem ser esquecidas são o abandono e a morte.
- E se meu problema fosse a morte? O que você diria? Como eu poderia resolver isso? - Disse isso como se acreditasse que ele tinha a resposta que eu queria.
- ... - Ele não disse nada, mas senti que ele estava me escondendo algo.
- É, foi como eu pensei, você é apenas mais um bêbado desgraçado falando besteira! E se não for muito incomodo, procure outro lugar para ficar ou outro alguém para atormentar, afinal, o parque é bem grande, não vão lhe faltar oportunidades!
- Não, espere! Só mais uma coisa. Você seria capaz de fazer de tudo para ter quem você perdeu de volta?
- Já falei, procure outro lugar, me deixa em paz! - disse isso para que percebesse que não o queria mais por perto.
- Espere, talvez eu possa ajuda-lo de verdade. Certa vez, eu ouvi dizer que se você estiver mesmo precisando de ajuda no centro da grande floresta que separa nossa capital da cidade de Saint Louiz, você encontrará alguém que poderá ajudá-lo, alguns dizem que há uma velha feiticeira que habita o coração da grande floresta, se você acha mesmo importante, não seria muita loucura arriscar, eu sou um covarde, porque como você disse, eu sou um bêbado dizendo bobagens, mas você parece ser muito melhor do que eu, pois sei que se eu colocar os pés naquele lugar, posso não encontrar uma saída, mas você é diferente não é mesmo?
- ... - Não consegui dizer nada, pois algo em mim acreditava nas palavras daquele homem estranho.
- Vá até lá garoto, só de olhar em seus olhos, sei que você sairá de lá com a resposta que tanto procura.
- Porque acha que vou ouvir o que está dizendo? Pra mim isso não passa de uma lenda fajuta de um velho bêbado e fracassado!
- Se é o que você diz, não está mais aqui quem falou! Se você quer saber, eu não costumo julgar o carácter das pessoas pelo o que elas dizem, mas sim pelo o que fazem! Mas agora acho que já lhe causei muito incomodo. Até algum dia e boa sorte garoto!

Ele sai caminhando apressado e cambaleante, não consigo tirar os olhos daquela figura até que desaparece pelo horizonte:

- "Quem será aquele homem? E porque ele me disse todas aquelas coisas, como eu poderia saber que estou precisando de ajuda?


O fato é que verdade ou não, aquelas palavras mexeram comigo e me deram esperanças, mesmo que falsas.
Mais tarde, já em casa caía a tarde e espalhava-se a escuridão profunda da noite, a brisa estava fria, saí para tomar ar fresco e pensar na vida, e lembrei do que me havia dito aquele homem, talvez eu o tenha julgado mal, agi como se não me importasse com o que tinha me contado mas no fundo, minha vontade era de ir imediatamente para a tal floresta, Renata sempre disse que eu deveria seguir mais meus impulsos e pensar um pouco menos. Se estivesse em uma história em quadrinhos, esse seria o momento em que o herói tomaria a decisão que o faria diferente dos reles mortais, eu vou, já que não tenho mais nada a perder!

Então, me dirigi ao local, ficava exatamente onde aquele homem me disse, na fronteira entre New Silvertown e o município de Saint Louiz, o lugar é enorme, e não sei bem por onde começar, de que modo poderia chegar ao centro da floresta se não consigo nem ao menos enxergar o que há no meu caminho? Mas tinha algo que me motivara, quanto mais eu adentrava a floresta, mais sentia que poderia de alguma forma ver Renata novamente, e foi com esse pensamento que caminhei por horas, sem desistir nem olhar para traz, até conseguir ver uma luz que vinha de uma casa pequena e muito velha, tinha marcas de mofo por toda madeira das paredes, era um lugar escuro com apenas uma lâmpada iluminando a frente da casa, esta, estava repleta de mariposas em sua volta, o clima no local tinha vibrações pesadas, mais não era hora de desistir, já que havia chegado até aqui. Eu tinha que fazer algo, precisava saber se tudo aquilo era realmente verdade.
Aproximei da casa, a porta estava entreaberta, entro devagar com medo de fazer barulho, a porta range quando eu a empurro, caminho até um corredor estreito e avisto uma sala com pouca iluminação, deduzi então que estivesse sendo iluminada por velas, chego perto da porta e uma voz feminina, velha e cansada toca meus ouvidos causando-me arrepios:

- Entre Mattew.

Como por instinto eu entro, sem pensar em mais nada e avisto uma pequena senhora de traços faciais adocicados e uma aparência de quem tem boas intenções, usava roupas simples e tinha um cabelo grisalho enorme preso para traz em forma de trança, parte da sensação estranha que senti ao chegar deixou de existir, olhei para os olhos dela e então ela disse:

- Ora Ora! Parece que tenho um convidado.
- Quem é você, e o que espera de mim.
- Mattew, eu não quero e nem espero nada de você. Mas sei que posso te ajudar.
- Como sabe meu nome, e como sabe que eu preciso de ajuda? - Disse confuso.
- Eu sei porque sei! O mundo e o universo não guarda segredos para mim, e o fato de você estar aqui neste momento já indica que precisa de ajuda.
- O que está querendo dizer?
- São poucas as pessoas que conseguem chegar até aqui, e menos ainda são aquelas que conseguem voltar. Isso significa que você é uma pessoa especial, acredite ou não está destinado a estar aqui.
- Se sabe meu nome, sabe da mesma forma o porque vim te procurar, então não fique me enrolando com esse papo furado de destino!
- Escute bem garoto, você pode não estar entendendo o que esta acontecendo, por estar achando que nada se encaixa mas preste bem atenção, eu sei que você sempre foi filho único, seu pai era um irresponsável que morreu devido a falta de amor pela vida e sua mãe o julga por achar que você se parece com ele, enquanto você pensa que ela te odeia por isso.
- Ótimo! A senhora é mesmo sabichona! Agora me diz o que isso tem relação com a morte da pessoa que mais amava, pois até agora você só provou que tem um grande dom para cuidar da vida alheia!
- Veja só como você é um menino rebelde e mal agradecido, espero que não me interrompa novamente, respeite uma velha senhora. Mattew, você tem um coração essa é a verdade, você anda, come, bebe e respira por amor, cada passo que você da representa uma gota de esperança dentro do seu coração isso te da uma força fora do comum para enfrentar qualquer coisa, não importa o quanto seja difícil, você é um homem forte. Mais os maus espíritos não gostam disso eles querem pessoas como você ao lado deles, pois quem ama também se engana e esses enganos quando ocasionados pelas forças malignas tornam- se tragédias e essas tragédias poderiam ter ocasionado sua perdição.
- Esta querendo dizer q...que Renata morreu por minha causa?
- Eu acho que já não temos mais tempo para esse tipo de pergunta ingênua Mattew, você sabe o que quero dizer!
- Acho que sim...
- O fato é que o espírito dela foi condenado as trevas.
- Por que? O que ela fez?
- Ela tirou a própria vida, quer um motivo maior que esse?
- Ela não pode ter feito isso, ela não tinha motivo para isso, sem contar que ela tinha vários sonhos e não morreria antes de concretiza-los!
- Eu sei, e é por isso que você está aqui. Essa não é a primeira vez que pessoas cheias de vida e sonhos decidem acabar com tudo sem motivo nenhum, isso me faz acreditar que estão sendo influenciadas por forças sombrias do outro mundo.
- Mas então, como posso fazer para tê-la de volta?
- Você não a terá, o mínimo que posso fazer é ajuda-lo a descobrir quem esteve por traz disso.
- E como pretende fazer isso?
- Quero que você fique com isso, e faça bom proveito desse item.
Ela abre uma gaveta e dela retira um lápis escuro, que parecia ter sido feito de carvão prateado e era todo cheio de escrituras e gravuras como se fosse um tipo de criptografia:

- Pegue Mattew, use para conseguir comunicar-se com Renata.
- Como? Devo escrever e esperar que ela responda?
- Você sabe que não, desenhe-a e ela aparecerá para você, mas cuidado, uma única linha mal traçada por esse lápis poderá significar a perdição da sua alma!
- Certo! Então eu sei o que fazer!
- E mais uma coisa garoto, use este lápis com prudência, saiba que os servos da escuridão só vão abrir as portas do outro mundo porque esse lápis não é um instrumento divino, os bons espíritos não deixariam nenhum humano atravessar essas passagens.
- Ok, estou indo, muito obrigado pela ajuda! Serei eternamente grato!

Após dizer isso, me direcionei a saída, e quando me aproximei da porta, ela me chamou de volta:

- Espere Mattew! Creio que é melhor levar isso também! - Me disse isso segurando em suas mãos uma pequena adaga dourada, com a empunhadura no formato de uma fênix e alguns detalhes de prata em sua lâmina.
- O...o que é isso?
- Uma adaga, que você deverá usar somente quando for necessário, mas não se preocupe, saberá a hora certa de usa-la...
- Eu entendo...

Depois disso, fui para casa correndo, pois essa era talvez, minha última chance de ver Renata novamente.


Continua...

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