sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"... Cultura e revolução atravé de um simples blog..."

Dentre muitas músicas e melodias que inspiraram a constituição dos capítulos postados até agora não pude deixar de incluir a letra de uma música que foi o auge de meus ideais desde quando ainda tinha 12 anos de idade (isso não faz muito tempo). É a música proprietário do 3º mundo da banda "Dead Fish" famosa no cenário underground brasileiro do gênero Hard Core revolucionário, fica ai um pouco dessa fúria adolescente dos anos 2000.

Promessas eternas por cumprir

E mortos demais a esperar,

Sobre uma terra fértil à espera de mãos pra plantar.


Mas os punhos fechados e amargos dos proprietários do terceiro mundo.,

perderão sangue demais... pra perdoar

Mentalidade tacanha e assassina nas favelas do terceiro mundo.

Mortos, suicídios, chacinas somados é o que se vê.

(...Nossos instintos assassinos somados é o que se vê...)

Minério, violência, especulação.

Bens materiais a amar,

Prédios altos que mostrarão quão grande o tombo será.


Mas a ordem e progresso assassina dos educados do terceiro mundo.

São cegas demais pra perceber

Mas o ódio e a fome dos sem-teto do terceiro mundo.


Justiça por caos podemos ver.


Liberdade..

Paz, força e coração.. vida, amor, libertação.. um desejo incontido nas cabeças do terceiro mundo.

Tudo isso virá se pudermos perceber... que amar, viver, cantar, não será em vão.


http://http//www.youtube.com/watch?v=Rgbuk-Zvy6M


quarta-feira, 28 de julho de 2010

Capítulo 3 - Culpa

- Renata? É você? Responda, eu sei que você está aí! - Ninguém responde, fico paralisado sentindo um forte arrepio por todo corpo e volto a perguntar. - Renata? É você mesmo? Apareça por favor!



- S... Sim Mattew eu estou aqui...
Dizendo isso, ela aparece diante de mim, suas roupas estavam sujas e maltratadas, a pele estava pálida e totalmente sem vida, a cabeça baixa e os olhos cobertos totalmente pelo cabelo, como se estivesse guardando algum segredo. Aquela imagem me apavora, mas não tenho motivos para sentir medo, afinal eu estava frente- Renata, que lugar é esse? Onde estamos? - Disse isso alterando minha voz para que ela - Mattew, você esta no frio e obscuro mundo das sombras! Onde eu, um espírito errante passará a viver o resto da minha existência.

- Fiquei surpreso com o que ela disse, estaria eu realmente morto?



-Mundo das sombras? Então o fato de eu estar frente a frente com você significa que eu também estou morto e que minha alma foi condenada a apodrecer nesse lugar horrível?



-Sim e não ao mesmo tempo.



- Como assim? - Já não tenho mais paciência para respostas incompletas, ela tem que ser mais direta. – Por que você diz sim e não ao mesmo tempo? Ou eu estou morto, ou vivo! Não é possível um meio termo!



Para dizer a verdade, há sim. Você nesse momento está apenas adormecido, o que permite que seu espírito tenha uma maior liberdade para entrar em contato com o plano espiritual, por isso, agora você está falando comigo, apesar do fato de eu já não pertencer à mesma realidade que a sua.



- Mas se estou apenas sonhando como você diz, o que tem isso haver com a morte? – Por mais absurdo que fosse aquela situação, eu começava a enxergar todas aquelas palavras como verdades palpáveis.



- Caso você não saiba, o sono tem muito haver com a morte, pois esse desligamento do corpo que dá liberdade ao espírito acontece enquanto dormimos é o mesmo que ocorre quando morremos. Só que na morte o corpo se desliga por completo e eternamente, essa é a única diferença.



- Ótimo você me convenceu! – Fico satisfeito com a resposta, embora toda essa história esteja absurdamente fora dos conceitos da normalidade. – Mas quero que saiba que existe um motivo para eu estar aqui, eu desejei isso porque tenho a necessidade de saber o que houve com você, o que te motivou a tirar a própria vida? Eu encararia até mesmo a verdadeira face da morte para descobrir isso.



- Então está perdendo seu tempo. Não vai conseguir respostas comigo.



- Perca de tempo? Como pode estar dizendo isso após eu afirmar que morria para permanecer ao seu lado nesse mundo infeliz!



- Você diz isso porque é um tolo. Fique sabendo que os vivos devem apenas cuidar dos assuntos dos vivos, o que há após a morte fica restrito aos espíritos livres da matéria, por isso deve esquecer toda essa bobagem e levar sua vida adiante.



- O que? - Me descontrolo - A minha melhor amiga comete suicídio sem nenhum motivo aparente e você diz que é bobagem? Como se atreve a dizer algo assim? Desde quando você se tornou essa pessoa tão fria? – Esse comportamento? Essas palavras? O que houve com Renata? Por que ela diz essas coisas tão duras? Como ela pode agir sem demonstrar nenhum tipo de sentimento, o mesmo recíproco a minha dor?



Cale-se de uma vez e vá embora! Eu não preciso de você aqui, não pedi que viesse e mesmo se você soubesse a verdade sobre a minha morte, não faria a menor diferença, afinal você é um inútil que não sabe o que faz!



- Não acredito em suas palavras. Se você é mesmo quem parece ser, você só pode estar mentindo, por algum motivo não pode contar a verdade sobre esse lugar onde vive agora, acredito que tenha feito algo muito ruim para merecer isso, algo de que você se envergonha, um segredo do qual nada foi dito e que você guarda apenas para você, um fardo que só você poderia carregar e preferiu assim fosse para não arriscar a vida ou bem estar de mais ninguém! Eu sei por que é o que a Renata Mayson que conheço faria...



- Já basta! - Interrompe- me, acertando um tapa no meu rosto - Cale-se ao menos por um segundo e coloque na sua cabeça que essa pessoa de quem você fala já não existe mais! Está morta e enterrada! E eu sou apenas o que sobrou das tristes lembranças, da revolta e das decepções. Lamento desiludi-lo, mas essa é a verdade, você vê a vida como um conto de fadas e pensa que o amor que sente é a solução para todos os problemas, mas está muito enganado, tenha ciência de que o fato de seus sentimentos serem verdadeiros não significa que você está isento do sofrimento do mundo, você não merece a felicidade mais do que as outras pessoas, a vida é igual para todos. Pois então pare de se fazer de vitima e encare sua realidade, dê valor a sua vida e vá encontrar um motivo para viver dentro de você mesmo.



- Embora você seja visivelmente idêntica a Renata como diz, seu coração não é igual ao dela, ou seja, você não sabe nada sobre mim, pois ela era a única pessoa nesse mundo que me conhecia por inteiro, por isso, não diga essas coisas como se soubesse algo ao meu respeito.



- Pois então o que você ainda faz aqui? Agora que você já sabe que não sou a pessoa que procurava porque ainda não foi embora?



Agora eu entendo , tudo o que eu vivi e tudo o que foi feito até agora contribuiu para que eu, me permitisse viver a vida sem nenhum motivo verdadeiro, desde pequeno procurei por um verdadeiro significado para a felicidade, desse modo eu sonhei e idealizei um mundo onde eu seria feliz simplesmente por ter amor dentro do meu coração, e enquanto esse amor inflamasse dentro do meu peito nada nesse mundo poderia me derrubar, ainda que duvidassem das minhas capacidades, desdenhassem dos meus sonhos e objetivos eu teria força o suficiente para tudo isso e quebrar os limites que me foram apresentados desde muito tempo atrás. Foi assim que eu encontrei Renata e nela depositei todo o sentido de minha existência e minha felicidade esquecendo-me de todo o resto.

Na escola, minhas notas eram medianas e nunca me esforcei o bastante para realizar nada de inovador, enquanto isso as pessoas ao meu redor iam crescendo e evoluindo. Os meus amigos se foram e eu continuei aqui, mas isso jamais havia me incomodado, pelo menos não até agora. Entretanto nesse momento eu posso ver que apenas amar não basta e eu perdi todo meu tempo mergulhado em ilusões e me escondendo atrás da mascara de alguém que se contentaria com uma vida onde apenas teriam importância apenas as coisas relacionadas comigo e com Renata, mas tudo isso não passa de mentira, nunca foi só isso eu sempre sonhei em ser alguém em que as pessoas depositassem confiança, alguém que geraria sorrisos no rosto de quem mais amo. Porém me deixei-me levar por expectativas e falsas verdades enquanto a vida foi passando, e mal pude perceber que a felicidade que eu vivia era apenas superficial e que meus olhos estavam vendados de modo que não consegui perceber o processo que levou a pessoa que em toda minha vida teve mais valor a morte. Eu ignorei a depressão e as tendências que a levaram a destruição, enquanto isso eu me perdia dentro de mim mesmo e me afogava em um mar de desequilíbrio. Eu estive morto mesmo em vida e por isso, apenas por isso que mereço ouvir os absurdos que esta pessoa que já foi a Renata que eu conheci diz e me conformar pois essa é a verdade.

Talvez a melhor coisa a se fazer agora seja ir embora, mas antes disso:



- Renata! Eu prometo a você que jamais voltará a me ver ! Mas antes disso eu preciso que me diga uma coisa!



- O quê?



- Eu sei que este mundo não é uma propriedade nem do inferno e tão pouco do céu, e sei também que está alheio a vida que nós humanos levamos na Terra! Portanto eu gostaria de saber quem o criou? Com que finalidade, e por que tantas almas como a sua são trazidas a esta realidade tão cruel ?



- certas coisas que não devem ser explicadas! E que simplesmente são o que devem ser, sem haver a necessidade de um quê ou porquê ! Desista dessa ideia, não perca mais o seu tempo nem o meu fazendo questão desnecessárias. A relação entre nossa vidas terminou no dia em que eu morri. Não lhe interessa o que me acontece após esse fato imutável.



- Renata ao menos responda-me isso! Preciso ter um esclarecimento, ao menos uma explicação para tudo o que houve até agora. Toda a minha vida tem sido uma existência sem propósito, eu já me sacrifiquei demasiadamente para chegar até aqui então eu peço que pela amizade que tivemos em vida faça valer a minha vinda a esse lugar e conte-me o que houve com você.



- Você é muito teimoso mesmo! Se é o você quer saber eu vou contar-lhe todo a verdade! Mattew você nunca conseguiu enxergar aquilo que sempre esteve diante de seus olhos, sempre ignorou tudo o que era real e preferiu viver encasulado dentro de um mundo fantástico onde as coisas todas pareciam ser manipuladas de acordo com o seu pensamento e sua imaginação. Enquanto isso eu sua melhor e única amiga de verdade levava uma vida ordinária na qual tudo sempre foi coberto pelas sombras do pessimismo e desconfiança.

Desde que minha mãe casou-se com aquele homem terrível (Phillip), quando ainda tinha 11 anos de idade, minha vida tornou-se um inferno, foi difícil entender que a porta do quarto deveria manter-se fechada o tempo todo enquanto aquele desgraçado estivesse em casa, ele ficava me espionando e tentou por diversas vezes arrombar a porta para me molestar diariamente e ao mesmo tempo minha mãe estava cada vez mais enfeitiçada por ele a ponto de não conseguir enxergar o que estava acontecendo diante de seus olhos e dentro de sua própria casa. A presença e o dinheiro de Phillip corromperam o seu coração e por minha desgraça passei a viver sob a necessidade do uso de substâncias químicas para dormir e esquecer as dificuldades da vida, anti-depressivos entre outras drogas.

De certa forma você nunca conheceu o meu verdadeiro eu.



- Não pode me culpar por isso! Você é que nunca foi capaz de ser sincera comigo e dizer que tipo de vida você levava! Mas creio que já seja tarde demais para se ficar dizendo verdades indesejáveis um para o outro! - Essas verdades são tudo o que eu não queria ouvir embora minha intuição soubesse que ela sempre esteve a mercer destas tendências de jovem alcoolatra suicida, eu jamais imaginei que isso se concretizaria de maneira tão difícil de se aceitar. Agora já não adianta mais lamentações o que foi feito é fato não há mais o que se possa fazer a respeito eu tive que sofrer para perceber que a pessoa que mais amei na vida simplesmente nunca existiu e que eu se tivesse sido um pouco menos ingênuo as coisas poderiam ter sido diferentes. Eu sempre me isentei de preocupações e depositava no mundo a razão de todos os meus problemas. Mas agora eu me permito sentir uma coisa que nunca soube o significado...culpa...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Capitulo 2 - Promessa

Embora minha vontade de ver Renata me motivasse a seguir meu caminho para casa, não podia deixar de notar que algo estranho estava acontecendo, pois a floresta parecia um pouco diferente, as folhas das árvores pareciam mais escuras, a trilha parecia ter mudado também, não era como se eu estivesse andando em círculos, mas sim como se eu estivesse "entrando novamente na floresta", estava ficando confuso, mas eu precisava manter meu foco nos caminhos em que eu tomava para ter em mente se já havia passado por um deles ou não, a única coisa que me motivara a continuar em frente era ver Renata novamente.

" Será que o mito de que poucos conseguem sair vivos desse lugar estaria se tornando verdadeiro?"


Mesmo sabendo que não poderia pensar dessa forma, o desespero começou a tomar conta de mim, nada do que a velha feiticeira disse parecia fazer sentido, mas eu não podia ficar parado no meio da floresta esperando ser encontrado e levado para fora, pois a escolha que eu fiz foi a de nunca mais depender de alguém. Eu tive a opção de vir aqui e arriscar minha vida por um sonho absurdo, mesmo sentindo que desde o encontro com aquele bêbado na praça até as ultimas palavras com a velha possa ter sido tudo parte de um jogo da vida onde eu sou simplesmente uma peça manipulada pelos outros, ultimamente não tenho o controle da situação, a saída é confiar no meu coração e não na minha razão. Afinal os últimos acontecimentos não tem sido lógicos,
pois se não for mesmo verdade o que a velha disse ela não perderia tempo me dando esse lápis e essa adaga, mesmo que não tenham nenhum valor espiritual, não é de se negar que seriam de alto valor material aos olhos de qualquer leigo.
Muitos no meu lugar estariam apavorados nessa situação, mas existe algo em mim que me impede de sentir as coisas da vida da mesma maneira que as outras pessoas,parte de mim não importa se algo ruim vai acontecer comigo ou não, se eu morresse agora o meu único arrependimento seria o de não ter conseguido um ultimo contato com Renata, de não conseguir mostrar os meus sentimentos por ela. Até dias atrás era isso que me motivava a continuar lutando por uma vida melhor, mas agora nada disso faz sentido, me considero um ser humano que retornou a estaca zero, tudo que me resta é seguir daqui pra frente, confiando apenas no que disse uma senhora desconhecida, mesmo que isso esteja fora dos meus princípios.

Enquanto caminhava mata adentro, ouvia o barulho dos carros e via parcialmente a luz dos postes da cidade, isso obviamente indicava que eu estava no caminho certo e que os próximos passos que darei serão os últimos nesse lugar. Finalmente avistava a estrada para fora da floresta, estava eufórico o que fez com que eu não me desse conta de ainda havia um longo caminho pela frente até chegar em casa. Essa cidade e essas ruas, contaminadas pela escuridão e frieza do mundo. New Silvertown a muito tempo deixou de ser um lugar de paz, para tornar-se um abrigo de desesperados como eu, de pessoas que procuram um esconderijo para os seus medos, um lar de ladrões, mendigos, viciados, bêbados e prostitutas. Ainda sim consigo me sentir menor do que todos estes que mencionei, pelo menos eles sabem seus devidos lugares nesse mundo, diferente de mim que não via sentido nenhum para minhas ações até o momento presente, mas pela primeira vez na vida começo a enxergar que dependente dos meus passos seguintes este lugar que eu procuro desde pequeno esteja se aproximando, conforme eu vou desenhando o percurso da minha vida. Mas de uma coisa eu posso ter certeza, não é vagando por essas ruas vazias e frias cheias de sofrimento que eu vou encontrar o sentido da vida.
Eu já tive sonhos em que eu descansava debaixo de uma árvore de frutas e flores vermelhas, com gramado e uma casa humilde feita de madeira esse seria o lugar que eu tanto procuro mas algo me diz que isso não passa de sonho de criança que nunca se realizará...Hump..."No que estou pensando?" Esse tipo de reflexão fez com que o caminho passasse mais rápido mal pude perceber que já estava chegando em casa.

Chegando no meu "doce lar", senti que nada podia me atingir, se eu fosse assaltado ou mesmo ferido, nem iria me dar conta disso, eu agora tenho um objetivo e seja o que for, as únicas coisas que me vem em mente são as lembranças de Renata.

Trancado em meu quarto, com o lápis e a adaga em cima da escrivaninha, que no momento mais parecia um altar iluminado a luz de velas, pois estava praticamente sem dinheiro para pagar as contas e estava economizando, essas luzes não agridem meus olhos, mas poderia dificultar a visão que eu tinha dos traços que irei desenhar.

Nunca havia me dado ao direito de desenhar Renata, o fato de ser apaixonado por ela me impedia de fazer isso, pois se eu fizesse estaria usando meu dom de forma errada, traindo os meus conceitos, a arte é sempre uma prova de amor, seja essa prova para você mesmo, ou para uma outra pessoa, mas nunca uma maneira tola de se deslumbrar e iludir as pessoas, meu amor por ela era puro e limpo desse tipo de pensamento, talvez eu finalmente entenda como Deus age de maneira engraçada, agora que minha amada está morta, eu tenho um verdadeiro motivo para desenha-la, e já estava mais do que na hora de começar!

Os sentimentos começam a se misturar dentro do meu coração, sinto ódio do mundo e suas injustiças. Por que Deus escolheu tirar a vida de alguém como Renata se existem tantas almas errantes que mereceriam a morte mais do que ela? Com o lápis em minhas mãos os olhos fechados e como de costume as mangas do casaco levantadas eu inicio uma oração, mesmo que eu não seja uma pessoa religiosa, neste momento acredito que se existe um ser divino que pode me ajudar é nele em quem devo confiar:

"Oh Senhor, meu pai eterno, peço para que tenha piedade da alma de Renata Mayson e que a proteja onde quer que ela esteja... Peço também que me perdoe por agir contra suas decisões, compreenderei perfeitamente se for castigado por minhas ações, entretanto suplico que entenda que se faço isso é porque a amo mais do que a mim mesmo e porque não faz sentido a minha existência em um mundo onde Renata não exista, contudo se seu desejo for a minha destruição, que seja feita a vossa vontade, esse é o caminho que eu escolho a partir de agora...Em nome de pai, do filho e do espírito santo, amém..."

Após terminar a oração, ainda com o lápis em minhas mãos começo a sentir um terrível calafrio em todo o corpo minhas mãos começam a tremer e sinto como se nada mais existisse ao meu redor uma sensação totalmente diferente de qualquer coisa que já senti na vida toma conta do meu espírito, um poder invade o meu ser, como se algo que estivesse guardado a muito tempo dentro de mim tivesse despertado e adquirido sua liberdade, uma energia que me dava vontade de me levantar e desafogar todas as mágoas sufocadas no meu peito, imediatamente a imagem de Renata vem em minha mente, meu corpo começa a tremer, sentia os ossos da espinha congelar, o suor frio escorria em minha testa, e ainda com os olhos fechados, senti como se algo tivesse tocado meu ombro, abri os olhos assustado, e avistei uma mariposa negra, foi quando um peso enorme invadiu meu corpo nesse instante, foi quando olhei para o lápis e percebi que suas escrituras estavam reluzindo, meu braço queimava, estava sendo tomado por uma espécie de "fogo negro". A mariposa começa a voar em minha volta, é quando sem nem mesmo perceber, começo a deslizar o lápis sobre o papel , eu fazia tudo com uma delicadeza jamais usada e ao mesmo tempo, mal percebia o que estava fazendo, traço por traço, hachura por hachura, linha após linha, cada detalhe do rosto de Renata foi reproduzido com perfeição, como nunca havia feito antes, o lápis estava frio a ponto de eu não aguentar mais segura-lo, meus dedos tremiam, e eu começo a sentir vontade de solta-lo, mas essa vontade não vem apenas de mim, senti como se ele tivesse vontade própria e "desejasse" que eu o soltasse, foi quando o lápis caiu de minha mão, se alguém estivesse comigo naquele momento iria dizer que eu o deixei cair, só que na verdade, pode parecer loucura, mas o lápis "soltou-se sozinho" e então senti meu corpo mais leve.

Quando pude notar, o desenho estava pronto, tão perfeito que parecia ter vida! Entretanto, o desenho que fiz dos olhos de Renata estava um pouco estranho, parecia que algo ruim havia acontecido, por um instante, o silêncio tomou conta do ambiente, senti meu coração bater mais forte eo relógio que marcava 23:59 fazia o clima apenas piorar, quando de repente, todas as velas se apagam, restando apenas uma acesa, o que faz o ambiente ficar um pouco mais escuro, entretanto não sentia medo, muito pelo contrario sentia conforto inacreditável era como se aquela escuridão fizesse parte da minha personalidade "oras mas no que estou pensando?", eu estou usando este lápis unicamente para entrar em contato com Renata, não é à toa que a velha me pediu cautela ao usá-lo, eu sinto o seu poder mas não posso permitir que tome o controle. É quando começo a ouvir um som esquisito, como o bater de asas de mariposa, porém dessa vez, não é apenas uma, mas sim várias, e elas também estavam rodeando meu quarto numa velocidade impressionante formando assim uma corrente de ar que pouco a pouco começa a congelar meu corpo, foi então que uma delas pousou em minha mão direita, era estranho, mas eu sentia um peso enorme nessa mão, como se ela carregasse todo o sofrimento e angustia que eu estava sentindo. Agora tudo parece estar em camera lenta, posso ouvir meus batimentos cardíacos e sinto uma grande pressão em toda minha circulação sanguínea, perco meus movimentos e pouco a pouco vou perdendo a consciêcia, já não consigo diferir o que é real ou não.

Passam-se alguns segundos e nada acontece, sinto apenas uma dor insuportável na cabeça, percebo que a ultima vela se apaga e o local fica coberto por uma escuridão total que não permite que eu enxergue mais nada, logo sinto que não é apenas isso, há algo estranho na atmosfera, já não sinto mais frio, mas existe um vazio enlouquecedor no meu coração, já não me sinto mais em casa, o clima é diferente, o cheiro é estranho eu devo estar sonhando ou eu estou em outra dimensão onde tudo é triste e obscuro."Preciso sair daqui, o que isso significa? Onde eu estou? O que será isso?", senti um toque suave em meu rosto, era um toque feminino e vinha de trás de mim, já não tinha mais duvidas, era Renata. Virei em direção a ela rapidamente, mas embora tivesse sentido sua mão, eu não podia ver ou nem mesmo sentir sua presença, é como se somente uma parte dela estivesse comigo. É quando ouço apenas sua voz suave e delicada ao dizer:

- Matt, a resposta para estas suas pequenas questões é ...A morte!!!


Capitulo 1 - O Cartunista

Tudo começou quando eu, Mattew Mc. Gregory passei a morar sozinho numa velha casa no centro da cidade, acabei de completar meus 18 anos e sinto me pronto para iniciar a vida adulta, minha verdadeira intenção em morar no centro era ficar mais perto de minha amada e melhor amiga Renata Mayson.

Ela sempre gostou de ficar próxima a mim, pois tento fazer com que ela sinta-se bem com meus desenhos engraçados, e ela costumava dizer que quando eu desenhava, tudo ficava mais bonito e puro.
Passei alguns dias sem vê-la mas não achei estranho pois era muito comum que se afastasse quando estava em uma de suas crises depressivas, mesmo assim achei melhor ir na casa dela. Chegando avistei Philip, padrasto de Renata, um homem de carácter questionável e de imagem nada agradável, o tipo de cara que me faz pensar que sou a melhor pessoa do mundo. O cara estava parado em frente a casa fumando um daqueles cigarros baratos, me aproximei e disse:

- A Renata está?
- Você deve ser Matt, não é? A menina falava muito de você.
- Como assim? - Disse preocupado. - O que houve com ela?
- Garoto, vou te falar uma coisa, está perdendo viagem...
- Porquê está dizendo isso? Por acaso não vai me deixar vê-la?
- Não seja abusado moleque, digo isso porque não vai poder vê-la nem aqui, nem em lugar nenhum!
- "estou quase ficando irritado com esse cara! Ele só pode estar de brincadeira!"
- Diga logo o que houve então! - Disse com tom de voz um pouco elevado.
- A sua amiginha confundiu um frasco de anti-depressivos com pacote de balas e acabou morrendo, hump, era mesmo uma garota idiota!
- O que!? - Após dizer isso, dei as costas para ele sem dizer uma palavra.
- Não se esqueça de ir ao velório amanhã cedo.


Senti uma fúria grande que seria capaz de arrancar a cabeça daquele desgraçado, ela morreu e o maldito ainda fica fazendo piada. Mas eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser o fato de que não iria mais ver Renata, e que isso seria definitivo, não era mais um de seus desaparecimentos repentinos, estávamos falando de morte.
Acordei cedo com a esperança de que tudo aquilo tivesse sido apenas um pesadelo, mas era real, e eu tinha que estar no cemitério essa manhã. Chegando lá, não consegui ficar perto do caixão, fiquei apenas de longe observando, e tudo que eu via eram pessoas velando o corpo de Renata, foi a pior imagem que já havia visto, uma sensação estranha correu por meu corpo, ver minha amada ali, sem vida, sem cor e sem sentimentos. Não aguentei ficar até o final, preferia a morte ao vê-la sendo enterrada.

Não precisei de mais nada além de alguns papeis em branco e um lápis tranquei-me em casa, e lá passei um mês sem ver nada nem falar com ninguém, apenas desenhando o rosto dela e chamando por seu nome, mas sem ter alguma resposta. Numa noite dessas, resolvi que não podia ficar parado esperando que algo acontecesse, e que ficar em casa não iria traze-la de volta, decidi sair para dar uma volta, era um costume muito comum antes da morte de Renata, eu passeava com ela e imaginava que éramos namorados, embora que de fato éramos apenas bons amigos. Não tínhamos nenhum centavo, além do pouco que gastávamos com bebidas baratas, para falar a verdade, esses eram bons tempos, a única coisa que faltava naquele "cenário" era um cachorro, eu nunca tive um cãozinho, e observava enquanto as pessoas passeavam com seus pequenos animais, na maioria das vezes eram casais
o que me fazia pensar em como seria interessante se em minha realidade houvesse um menino como eu vendo o desenho da sombra formado por mim, Renata e um pequeno cachorro desaparecendo sobre a luz do sol.

Ao por os pés para fora de casa, senti como se tudo estivesse diferente, dessa vez eu andava com menos dinheiro que o normal, sem nenhum sonho, sem cachorro, sem Sol e sem o mais importante, sem a minha amada...
Então resolvi ir a um lugar que nos dois costumávamos frequentar, o parque central da cidade, onde permanecíamos por horas e horas jogando conversa fora falando um para o outro sobre nossos sonhos para o futuro ou nossos objetivos de vida, enfim, esse tipo de coisa, e ao chegar, mesmo tudo estando lindo como sempre, sem ela não era a mesma coisa, tudo parecia estar em preto e branco pra mim naquele momento. Foi então que derrepente apareceu um homem misterioso, de trajes surrados, barba mal feita, parecia estar embriagado, veio ate mim e do nada começou a puxar assunto comigo como se já me conhecesse:

- Ei garoto, você parece não estar tendo um bom dia hein!? Assim como eu... Mas ao contrário de mim, você ainda é jovem, e tem a vida inteira pela frente, seja o que for que estiver fazendo você se sentir assim esqueça! As únicas coisas que não podem ser esquecidas são o abandono e a morte.
- E se meu problema fosse a morte? O que você diria? Como eu poderia resolver isso? - Disse isso como se acreditasse que ele tinha a resposta que eu queria.
- ... - Ele não disse nada, mas senti que ele estava me escondendo algo.
- É, foi como eu pensei, você é apenas mais um bêbado desgraçado falando besteira! E se não for muito incomodo, procure outro lugar para ficar ou outro alguém para atormentar, afinal, o parque é bem grande, não vão lhe faltar oportunidades!
- Não, espere! Só mais uma coisa. Você seria capaz de fazer de tudo para ter quem você perdeu de volta?
- Já falei, procure outro lugar, me deixa em paz! - disse isso para que percebesse que não o queria mais por perto.
- Espere, talvez eu possa ajuda-lo de verdade. Certa vez, eu ouvi dizer que se você estiver mesmo precisando de ajuda no centro da grande floresta que separa nossa capital da cidade de Saint Louiz, você encontrará alguém que poderá ajudá-lo, alguns dizem que há uma velha feiticeira que habita o coração da grande floresta, se você acha mesmo importante, não seria muita loucura arriscar, eu sou um covarde, porque como você disse, eu sou um bêbado dizendo bobagens, mas você parece ser muito melhor do que eu, pois sei que se eu colocar os pés naquele lugar, posso não encontrar uma saída, mas você é diferente não é mesmo?
- ... - Não consegui dizer nada, pois algo em mim acreditava nas palavras daquele homem estranho.
- Vá até lá garoto, só de olhar em seus olhos, sei que você sairá de lá com a resposta que tanto procura.
- Porque acha que vou ouvir o que está dizendo? Pra mim isso não passa de uma lenda fajuta de um velho bêbado e fracassado!
- Se é o que você diz, não está mais aqui quem falou! Se você quer saber, eu não costumo julgar o carácter das pessoas pelo o que elas dizem, mas sim pelo o que fazem! Mas agora acho que já lhe causei muito incomodo. Até algum dia e boa sorte garoto!

Ele sai caminhando apressado e cambaleante, não consigo tirar os olhos daquela figura até que desaparece pelo horizonte:

- "Quem será aquele homem? E porque ele me disse todas aquelas coisas, como eu poderia saber que estou precisando de ajuda?


O fato é que verdade ou não, aquelas palavras mexeram comigo e me deram esperanças, mesmo que falsas.
Mais tarde, já em casa caía a tarde e espalhava-se a escuridão profunda da noite, a brisa estava fria, saí para tomar ar fresco e pensar na vida, e lembrei do que me havia dito aquele homem, talvez eu o tenha julgado mal, agi como se não me importasse com o que tinha me contado mas no fundo, minha vontade era de ir imediatamente para a tal floresta, Renata sempre disse que eu deveria seguir mais meus impulsos e pensar um pouco menos. Se estivesse em uma história em quadrinhos, esse seria o momento em que o herói tomaria a decisão que o faria diferente dos reles mortais, eu vou, já que não tenho mais nada a perder!

Então, me dirigi ao local, ficava exatamente onde aquele homem me disse, na fronteira entre New Silvertown e o município de Saint Louiz, o lugar é enorme, e não sei bem por onde começar, de que modo poderia chegar ao centro da floresta se não consigo nem ao menos enxergar o que há no meu caminho? Mas tinha algo que me motivara, quanto mais eu adentrava a floresta, mais sentia que poderia de alguma forma ver Renata novamente, e foi com esse pensamento que caminhei por horas, sem desistir nem olhar para traz, até conseguir ver uma luz que vinha de uma casa pequena e muito velha, tinha marcas de mofo por toda madeira das paredes, era um lugar escuro com apenas uma lâmpada iluminando a frente da casa, esta, estava repleta de mariposas em sua volta, o clima no local tinha vibrações pesadas, mais não era hora de desistir, já que havia chegado até aqui. Eu tinha que fazer algo, precisava saber se tudo aquilo era realmente verdade.
Aproximei da casa, a porta estava entreaberta, entro devagar com medo de fazer barulho, a porta range quando eu a empurro, caminho até um corredor estreito e avisto uma sala com pouca iluminação, deduzi então que estivesse sendo iluminada por velas, chego perto da porta e uma voz feminina, velha e cansada toca meus ouvidos causando-me arrepios:

- Entre Mattew.

Como por instinto eu entro, sem pensar em mais nada e avisto uma pequena senhora de traços faciais adocicados e uma aparência de quem tem boas intenções, usava roupas simples e tinha um cabelo grisalho enorme preso para traz em forma de trança, parte da sensação estranha que senti ao chegar deixou de existir, olhei para os olhos dela e então ela disse:

- Ora Ora! Parece que tenho um convidado.
- Quem é você, e o que espera de mim.
- Mattew, eu não quero e nem espero nada de você. Mas sei que posso te ajudar.
- Como sabe meu nome, e como sabe que eu preciso de ajuda? - Disse confuso.
- Eu sei porque sei! O mundo e o universo não guarda segredos para mim, e o fato de você estar aqui neste momento já indica que precisa de ajuda.
- O que está querendo dizer?
- São poucas as pessoas que conseguem chegar até aqui, e menos ainda são aquelas que conseguem voltar. Isso significa que você é uma pessoa especial, acredite ou não está destinado a estar aqui.
- Se sabe meu nome, sabe da mesma forma o porque vim te procurar, então não fique me enrolando com esse papo furado de destino!
- Escute bem garoto, você pode não estar entendendo o que esta acontecendo, por estar achando que nada se encaixa mas preste bem atenção, eu sei que você sempre foi filho único, seu pai era um irresponsável que morreu devido a falta de amor pela vida e sua mãe o julga por achar que você se parece com ele, enquanto você pensa que ela te odeia por isso.
- Ótimo! A senhora é mesmo sabichona! Agora me diz o que isso tem relação com a morte da pessoa que mais amava, pois até agora você só provou que tem um grande dom para cuidar da vida alheia!
- Veja só como você é um menino rebelde e mal agradecido, espero que não me interrompa novamente, respeite uma velha senhora. Mattew, você tem um coração essa é a verdade, você anda, come, bebe e respira por amor, cada passo que você da representa uma gota de esperança dentro do seu coração isso te da uma força fora do comum para enfrentar qualquer coisa, não importa o quanto seja difícil, você é um homem forte. Mais os maus espíritos não gostam disso eles querem pessoas como você ao lado deles, pois quem ama também se engana e esses enganos quando ocasionados pelas forças malignas tornam- se tragédias e essas tragédias poderiam ter ocasionado sua perdição.
- Esta querendo dizer q...que Renata morreu por minha causa?
- Eu acho que já não temos mais tempo para esse tipo de pergunta ingênua Mattew, você sabe o que quero dizer!
- Acho que sim...
- O fato é que o espírito dela foi condenado as trevas.
- Por que? O que ela fez?
- Ela tirou a própria vida, quer um motivo maior que esse?
- Ela não pode ter feito isso, ela não tinha motivo para isso, sem contar que ela tinha vários sonhos e não morreria antes de concretiza-los!
- Eu sei, e é por isso que você está aqui. Essa não é a primeira vez que pessoas cheias de vida e sonhos decidem acabar com tudo sem motivo nenhum, isso me faz acreditar que estão sendo influenciadas por forças sombrias do outro mundo.
- Mas então, como posso fazer para tê-la de volta?
- Você não a terá, o mínimo que posso fazer é ajuda-lo a descobrir quem esteve por traz disso.
- E como pretende fazer isso?
- Quero que você fique com isso, e faça bom proveito desse item.
Ela abre uma gaveta e dela retira um lápis escuro, que parecia ter sido feito de carvão prateado e era todo cheio de escrituras e gravuras como se fosse um tipo de criptografia:

- Pegue Mattew, use para conseguir comunicar-se com Renata.
- Como? Devo escrever e esperar que ela responda?
- Você sabe que não, desenhe-a e ela aparecerá para você, mas cuidado, uma única linha mal traçada por esse lápis poderá significar a perdição da sua alma!
- Certo! Então eu sei o que fazer!
- E mais uma coisa garoto, use este lápis com prudência, saiba que os servos da escuridão só vão abrir as portas do outro mundo porque esse lápis não é um instrumento divino, os bons espíritos não deixariam nenhum humano atravessar essas passagens.
- Ok, estou indo, muito obrigado pela ajuda! Serei eternamente grato!

Após dizer isso, me direcionei a saída, e quando me aproximei da porta, ela me chamou de volta:

- Espere Mattew! Creio que é melhor levar isso também! - Me disse isso segurando em suas mãos uma pequena adaga dourada, com a empunhadura no formato de uma fênix e alguns detalhes de prata em sua lâmina.
- O...o que é isso?
- Uma adaga, que você deverá usar somente quando for necessário, mas não se preocupe, saberá a hora certa de usa-la...
- Eu entendo...

Depois disso, fui para casa correndo, pois essa era talvez, minha última chance de ver Renata novamente.


Continua...